quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
SHANGRI-LA
Um dia eu fui a Paris
Paris-Texas
Pelos olhos do Wim Wenders
E lá do alto olhando
A estrada lá embaixo
Com seu asfalto, seus ônibus e seus caminhões,
Pude sentir o quanto a solidão é íntima de nós
Quando eu era criança
Morei um tempo em Shangri-la
E lá do alto eu podia ver
Os ônibus na estrada de barro,
De lama em dias de chuva,
Que iam até São João
Numa madrugada de chuva forte
Eu vi um rosto na janela
Nunca esqueci aquele rosto
Acho que era o rosto do vazio
Eu sentia saudades de Bel
Que até hoje é meu lugar
Não importa o imenso tesão
Que sinto por New York
Bel é onde vivo, onde para sempre quero ficar,
E eu nunca trocarei por New York
Ou qualquer outro lugar.
Arnoldo Pimentel
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
AVIÕES DE GUERRA AVIÕES DA MORTE
Não sei o que dizer
Depois de um bombardeio
Não sei o que dizer
Só vejo pessoas mortas
E crianças a chorar
Arnoldo Pimentel
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
A CASA DAS MORTES
Eu
tinha medo da Kombi azul
Quando ia
à padaria comprar balas
Beirava
os muros para esconder-me da Kombi azul
Eu tinha
medo da Kombi azul
A sala de
aula ficava vazia na hora do intervalo
Vazia
como as vidas interrompidas
Como os
corpos torturados, mutilados,
Com as
almas penduradas pelo pescoço na sala vazia
Almas que
nem o crucifixo usado pelo algoz absolvia
A
professora não dava aula de democracia
Eu não
sabia o que era democracia
O
dicionário não tinha a palavra democracia
Uma vez
eu estava com minha mãe em Nova Iguaçu
E vi os
homens verdes com seus cassetetes
Perfilando
e batendo em pessoas
No beco da
Ducal
Eu tinha
medo dos homens verdes
Dos
capacetes da PE
Na
estrada para Areia Branca
Tinha uma
casa abandonada
Onde as
árvores do quintal balançavam
Até em
noites sem vento
Em noites
sem lua
Em noites
com lua
Parecia a
casa das mortes
Eu tinha
medo da casa das mortes
De olhar
a casa das mortes
De entrar
na casa das mortes
Eu tinha
medo...
Da casa
das mortes
Arnoldo Pimentel
domingo, 13 de janeiro de 2013
doce doce a vida é um doce - palavras de Xuxa Meneghel
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
DESENHO
Os
ponteiros parecem imóveis
Quase não
se movem dentro do relógio
Que fica
pendurado na parede
Para
mostrar que os dias passam
A vaga
luz que vem do céu
Não
clareia o rio suficiente
Para que
ele tenha vida
No árido
pomar sem parábolas
As
crianças brincavam de pegar vaga lumes
Na
pequena rua descalça
Em noites
secas
As chuvas
molharam os quintais
E
evaporaram junto com os sermões
Que
nasceram no coração da montanha
Arnoldo
Pimentel
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