domingo, 7 de agosto de 2011

Negro Éden



Da floresta negra ao redor de mim
Só vejo a penumbra de uma luz vazia
Só sinto o calor gelado de um serafim
Só canto o que restou de uma vida luzidia
Há vultos que perambulam cabisbaixos
Pisando em galhos secos emaranhados.

Estrelas dançando um balé mórbido
Cinzentas nuvens vagando imponentes
A fauna se agitando num grito sórdido
A flora se erguendo, seguindo em frente.
Há rios vermelhos de groselha e de sangue
Há margens sinistras de areia e de mangue.

O azul-marinho desse intenso céu
paira lento no ar sedutor
Que rasga seu estranho e denso véu
Numa fracassada tentativa de sufocar seu fulgor.
Frutos que não alimentam, mas matam a fome
Sementes que não brotam, mas erguem um homem.

A folha seca é a roupa nua
O caroço carcomido é o alimento minguado
Ah quem dera ver tua carne crua
Ser violada por um pensamento alado.
Gozo que te jogue no inferno
Sofrimento que te erga ao paraíso eterno.

Mundo orgulhoso por vencer o bem e o mal
De servir e de se negar a toda essa gente
Que supera o sabor insípido do açúcar e do sal
Mundo livre; protegido de Deus e da serpente.
Ambiente puro por reconhecer sua perversão
Ambiente resolvido por assumir sua questão.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados
Imagem: Foto de Christian Cravo

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