quinta-feira, 23 de junho de 2011

Mulher-Hiena




Linda, louca, livre.
Intensa, híbrida, simples.
Foi mordida por uma hiena
Numa véspera de carnaval.
Recebeu uma alegre maldição serena
Que perdurou nos quatro dias de bacanal.

Da Baixada Fluminense
Já ouvia o ronco da cuíca
Que vinha da apoteose
Seus quadris e suas sapatilhas
Criavam vida própria
Numa hipnose.

Ao som do pandeiro e do reco-reco
Balança as ancas feito um boneco
Juntam-se a sua volta
Sambistas, mulheres, gays, crianças e velhos
Entre cerveja, churrasco e batucada
Envolve a todos com seu rebolado
E devora-os sem atraso
Sob histéricas risadas
Desgrenhada
Numa felicidade oca
Com o sangue dos inocentes
Escorrendo de sua boca.

Bacante peluda
Nua
Com seus dentes caninos
Come rindo suas presas
Que morrem canibalizadas
Incertas, sorrindo.

Ela invade blocos,
Luaus,
Boleros,
Pagodes
E saraus.

A polícia a procura
Distinta
Mas ela some
Na quarta feira de cinzas.

Ela está por aí disfarçada
Na professora,
Na empregada,
Na mãe de família,
Na dona de casa.

Na poética da narrativa;
Na surpresa da vida;
Na temática da poesia.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados.
Imagem: Google images.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

CADUCO NORMAL

ME CHAMARAM DE CADUCO
PQ MISTUREI MARACUJÁ COM AMOR
E FIZ UM SUCO

ME CHAMARAM DE CADUCO
PQ CHAMEI MEU SANTO
DE CARETA E MALUCO

ME CHAMARAM DE CADUCO
PQ CHAMEI A LIBERDADE
PRA JOGAR TRUCO

ME CHAMARAM DE CADUCO
PQ FIZ DA ROTINA
UM TRABUCO


ME CHAMARAM DE CADUCO
PQ PEGO A VIDA POR TRAS
E FAZEMOS VUCO VUCO

SOBRETUDO ME CHAMARAM DE CADUCO PORQUE CISMEI QUE A ESPERANÇA NA CABEÇA ERA MEU CUCO.
CUCO CUCO CUCO CUCO

domingo, 12 de junho de 2011

AMORTECIDO

E o cara comia o A
E o cara se lambuza com o M
E o cara fumava o O
E o cara bebia o R
E o cara não ficava de cara ...
O amor o endoidava


*um salve a todos da Gambiarra.PAZ*

sexta-feira, 10 de junho de 2011

MEU ALGOZ (Arnoldo Pimentel)


                                                                   MEU ALGOZ

Meu algoz está dentro do meu quarto
Não tem rosto figurado ou
Abstrato

Tem estilete nas palavras para cortar as minhas
Palavras

Fica em um dos cantos
Do quarto úmido apenas emboçado
Menor que 4x4
De olhos bem
Abertos

Com seu canto aberto
Vigiando a janela
Para o “monstro”
Não entrar

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Indócil Idílio




Devido a feroz solidão que em meu peito aperta
Eu nem me dou conta da reluzente estrela cadente
Que bem devagar e sem cerimônia despenca na nossa frente
Dizendo que a luz que aponta para o nosso futuro é muito incerta.

Era uma noite melancólica
Os comércios estavam fechados
Nossos passos eram largos
E a gente passeava pela rua bucólica.

As coisas aparecem e desaparecem sem deixar rastro
No mundo tudo passa muito rápido
Os pensamentos se diluem como se tomassem ácido
Ou se quebram com facilidade como vaso de alabastro.

Este seu ar de quem subjugou toda uma cilvilização
E percebeu que isso não valeu de nada
Lembra o soldado que, aleijado, tenta manter a guarda.
Tudo cai aos nossos pés; cidades, pessoas, menos um coração.

Conforme nossos atos, podemos ser na vida animais ou vermes
Mas sempre estamos atrás de algo que se reproduza
Acho que em outra vida fui a espada com a qual Perseu cortou a cabeça da Medusa
Ou com a qual Judite cortou a cabeça de Holofernes.

De meu ser e minha gente sou orgulhoso
Amar a mim e a meu povo é o que me resta.
Nunca diga que uma pessoa não presta
Pois cada ser-humano é um mistério mavioso.

Enquanto julgavas que era para teu pé um calo
E na tua vida nada mais que um peso morto
Eu me perdia nas matas negras do teu corpo
E descobria que teu coração morava dentro do teu falo.

Quem haverá de salvar nossa juventude alada
Enxugar suas lágrimas de Alexandre castrado
Que chora amores perdidos do passado
Lamenta toda sua virilidade prostrada?

De tudo que não é do bem eu tenho asco
Mas o meu sonho é nós nos entendermos sem compromisso
Botarmos para fora todo desejo reprimidamente omisso
Rei Salomão e a Rainha de Sabá fazendo amor numa cama de Damasco.

Sei que de meu opróbrio não sou digno de redenção
Cabe a mim gemer o gemido atroz da ema
Queria ser mais imortal do que um lindo poema
Mas minha humanidade é a minha real maldição.

Nosso caso com muita dificuldade respira
Nas veredas tortuosas de suas artérias
Morrendo para dar vida a outras matérias
Na superfície da minha pele que transpira.

O lance é mandarmos o medo para um lugr onde ele se debande
Resgatamos nossa sinceridade perdida de criança
Reconquistarmos com labuta nossa auto-confiança
Pois dizer "eu te amo" é uma responsabilidade muito grande.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados
Imagem: Google