terça-feira, 29 de março de 2011

SONETO DO AMOR QUE LHE PROMETO




Eu prometo amar-te com devoção
Doar amor à fragilidade do querer
Dar vida aos sonhos do seu coração
Ser a mulher que sempre desejou ter

Eu prometo proteger nosso enlace
Dizer não a tudo que possa te afligir
Nunca ser irreal ou usar um disfarce
Ser-te fiel enquanto este amor existir

Eu prometo dias de harmonia e beleza
Noites de amor, equilíbrio, felicidade
E todo dia há de ser extinta a saudade

Eu prometo uma eterna fidelidade
Eu prometo amar-te por eternidade
E serei teu amor e, a mais pura surpresa


domingo, 27 de março de 2011

O que desceu dos olhos
agora, nesse instante
puro, não são lágrimas
de um pierro perdido
no fim de carnaval
o que choro agora
são toneladas imensas
de amor acumulado.

Jorge Medeiros
(08-03-2011)

sábado, 26 de março de 2011

O despertar de Adão - poema em prosa




Outro dia ao acordar, imaginei-me no lugar de Adão. Mas não o Adão de Eva; não o Adão da árvore do fruto da ciência do bem e do mal; não o Adão da expulsão do Paraíso; não o Adão que gerou Caim e Abel. Mas o Adão de seu princípio. O Adão que sendo o começo de tudo, foi ele o próprio princípio do começo. E sendo ele seu próprio início, ainda sofria e se espantava com seu próprio desconhecimento de si e de tudo que lhe rodeava.

Falo do Adão que tinha acabado de despertar do primeiro sono gerador de sua vida, e sendo primeiro, também gerador da humanidade. Falo do Adão que acordou do sopro nas narinas e ao sentir-se barro fresco revestido em epiderme, se fragilizava e se confundia com aquilo que lhe era dado.

O impacto da dor do princípio das coisas e seu espanto é algo inigualável, pois ao acordar sentia a mim, meu colchão e meu lençol como terra pura. Eu era um Adão-Frankstein que desconhecia a mim e ao mundo e sendo me dado de presente, não sabia o que fazer com aquilo tudo. Que já nascia homem e sendo homem feito, recém-nascido, dado de presente de si para si, não sabia o que fazer com o primeiro dia, a primeira fome, o primeiro medo, a primeira sede, o primeiro desejo, a primeira raiva, a primeira manhã, a primeira manha, já que era eu o primeiro.

Não ser acostumado consigo mesmo e com o mundo causa um êxtase gozosamente insuportável. O susto das coisas em volta é algo fatalmente e irremediavelmente bom, pois a minha reação perante os livros, o guarda-roupa, o criado-mudo e os outros objetos do meu quarto deveria ter sido como a perplexidade de Adão perante as árvores, o rio, o mato, os bichos e o céu imersos na redundância física do momento que se exibia. Que é a reação do prazer em conhecer sem conhecer o prazer. O prazer inconsciente e desconhecido é um milhão de vezes melhor do que o prazer propriamente dito. Ainda mais quando se concebe e se pare a si próprio, sendo o seu próprio pai e sendo a sua própria mãe.

Cabia a mim, apenas, me agarrar ao primeiro andar e caminhar com bastante dificuldade até o banheiro, onde liguei a torneira e acolhi nas minhas mãos em conchas aquele outro ser sedutoramente desconhecido: a água. E o primeiro contato desta no meu rosto fazia tudo gradativamente se apagar. E do redemoinho que nascia do ralo, eu via escoar-se tudo: o sentido primeiro das coisas; a sensação primeira de tudo e o Adão que havia em mim.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados.

Crédito da imagem: Site Girafamania
Criação de Adão Michelângelo (detalhe).

quinta-feira, 24 de março de 2011

GÊNESIS, EXÍLIO, PARAÍSO (TRILOGIA DA SOLIDÃO)





Esses poemas falam da solidão em si, "Gênesis" é o começo, o nascimento, quando ainda existe a esperança que vai se desfazendo bem à frente, usei o título por achar que nada traduz começo como a palavra Gênesis, Exílio é quando tudo começa se mostrar, os sonhos estão evaporando e a alma se reclusa mostrando o que realmente está por vir, usei o título Exílio por achar que é ali que tudo se desmorona, que a realidade se mostra e as paredes do quarto, que é a própria existência podem ser o auto flagelo, Paraíso é o final de tudo, o ocaso, é ali que a solidão está, mas é também o auto conhecimento, o ocaso sempre foi, é  e sempre será o âmago da solidão de uma pessoa, pois é o seu fim, tendo ela sido feliz ou não.
Uma pessoa falou-me "Mesmo que escolha viver sempre sozinho, viva com Jesus no coração" e acho que só escapa do ocaso da solidão e pode ter um recomeço depois do fim é que tem Jesus no coração.


GÊNESIS    
                                                                 
As luzes ainda foram vistas
Mas logo se apagaram
Os passos foram ouvidos
E logo ali ao lado se calaram
O filme falado
Com cenas mudas
Ficou largado no sofá
O lanche imaginário
Não foi tirado do refratário
O sono cativou
E algemou
A noite acabou



EXÍLIO
                                                                   
Ficou apenas a ilusão
De ouvir o relógio
Ondas que vagueiam
No quarto
Vulto da lua
Que entra pela fresta do tempo
Abrindo a janela
Lembrando o que lá longe
Depois do bosque
O espera


PARAISO

As manchas
Ainda estão no canto da parede
A cama no meio do quarto
O cinzeiro com cinzas
Ao seu lado
Olhar tímido
Tempo perdido
Do amor
Que nunca será
Lembrado



O Poema Paraíso já foi postado aqui, mas preferi colocar porque ele fechar o círculo da trilogia.


terça-feira, 22 de março de 2011

Beijo Tenso


Teus olhos fechados
Contrários aos meus abertos
meus olhos
Dois faróis acesos
A rondar a rua deserta
Durante o beijo tenso
Sob a noite eterna.

Meus olhos a proteger
Nossa clandestinidade
Era preciso defender
Nossa efêmera liberdade
De amar.

Meus ouvidos
Nosso limite
Barulho de moto
A romper nossa esfinge.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados
Crédito de imagem: blog Renas e verdades.
Manipulação de Imagem: Sergio-SalleS-oigerS.

MEDO

MEDO

Vivo mesmo
Ficou apenas o medo entre
As quatro paredes brancas
Totalmente brancas
O corpo nu e torturado
Com a alma violada
Ficou esperando
O anjo vir lhe buscar
Assim terminaria sua sina
Que começou
E se acabou
Quando quis ser livre
E poder voar

(Arnoldo Pimentel)


sábado, 19 de março de 2011

*......................................................*

o planeta Mercúrio é nosso pedaço empoleirado no espaço.
disso sermos calientes pra caralho aquimbaixo!

e se liga;
Plutão não deixou de ser planeta não,
foi alguns Homens que roubaram sua frieza
e botaram no coração!!!

quinta-feira, 17 de março de 2011

O Homem-Peixe



Pulou para fora do aquário
Rastejou no carpete
Procurou um mar imaginário
Sem que ninguém soubesse.

Rolou da escada
Querendo alcançar a rua
Chegou até a escada
Saiu embaixo da chuva.

Seguiu pegadas
Deixou vestígios
Descamou em estradas
De delírio.

Atravessou pistas
Chafurdou na lama
Prejudicou as vistas
Machucou as barbatanas.

Mergulhou em poças
Refugiou no cais do porto
Esbarrou em louças
Sem nenhum conforto.

Buscou um barraco
Um pedaço de vitirne
Uma peça de teatro
Um roteiro de filme.

Um conto
Uma canção
Ficou sem ponto
Sem noção.

Nada encontrou
Nem mesmo um tema
Só se encaixou
Neste poema.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados

Crédito de imagem:
CAPTAIN BEEFHEART AND HIS MAGIC BAND - TROUT MASK REPLICA

quarta-feira, 16 de março de 2011

MIRANTE BEM DEPOIS DO LEBLON

O silêncio e a noite se confundem num mesmo som
Quando sou penetrada por sua poesia
Em todo meu ser
Um misto de dor e prazer
Que o vento sopra
Para além da voz cega a gemer

CANÇÃO DO AMOR


Quando no frio da madrugada meu corpo tremer na solidão
Unirei meus sentidos e em uma só voz cantarei – Eu te amo...
E um som borbulhante, um brotar de águas e uma corrente
Encherá seu meigo coração.

Quando pela manhã acordares e aquecer-se do frio do fim da
Madrugada, no vento banhado pelos primeiros raios de sol
Levarei aos seus ouvidos o meu canto de fidelidade – Eu te espero
Sentirás aquecido na sobriedade de minha sinceridade...

Quando a integridade de meu amor tocar o curso das águas
No fundo do seu ser, e alcançarem as torrentes que há muito
Estavam ocultas, a música do meu desejo acenderá a chama
Que se consumirá em você...

Sim, na noite, está se preparando nosso cântico, e no monte
Afinamos nossa voz, sem rimas, as nuvens darão sonoridades aos
Acordes que dissipam toda dor.

A chuva suaviza a melodia, eternizando este louvor
Na transição brusca do meu medo à minha esperança
Eu te ofereço este sincero cântico de amor...


segunda-feira, 14 de março de 2011

PÓN!TÁ!PÉ!PÁ!PUN!

caíram na porrada
a tristeza e a felicidade
MOTIVO DA BRIGA ; o coração e a vida de um Homem.

(observação;primeira colaboração
na Gambiarra,aí a Satisfação entra na parada)


domingo, 13 de março de 2011

O amor me pegou





O Amor Me Pegou

O amor me pegou
Entre solidão e música romântica
Entre meu quarto e minha cama.

Quando de repente
Me lembrei da primeira vez
Que vi seu rosto

De repente me vejo aqui
Com esse leão feroz
Querendo saltar de dentro do meu peito.

Que vai dar no mar
Que nos levará para uma ilha
feita para nós dois.

Guardada por um deus grego
E uma santa católica
Que se compadeceram
Da sinceridade do meu amor.

Será que você não vê
Que meu coração
é uma baleia gigante
Que ondula, pula e salta
De cabeça para o rabo
Num mar de bem-querer.

Mas eu fico aqui nesse quarto
Totalmente exilado, alienado, separado
Desse mundo que não se cansa
De correr lá fora.
Dessa gente que não se cansa de andar lá fora.

Não quero que minha solidão me enterre em terra frouxa
Me comendo da carne em incerteza
Que é a destruição.
Mas me conduza em estradas iluminadas
Por noites escuras de lua e estrelas
Que é a paixão.

Bendito seja seu rosto vermelho
De vergonha e charme.
Bendito seja seu olhar infantil
De inocência e arte.

Ainda hei de ver chegar o dia ou a noite
Em que numa mesa de bar
Ou numa festinha de estar
Chegaremos juntos
Passo a passo
Palavra a palavra
A verdadeira razão espontânea de sentimentos.

Não quero que minha loucura
Faça com que minhas unhas e meus dentes
Me estraçalhem vivo
Que é a morte.
Mas faça com que meus lábios e minha língua
Percorram os pelos do seu corpo
Sugando a sua energia
Que é a sorte.

Maldito seja todo o rosto pálido
De hipocrisia e maldade.
Maldito seja todo olhar frio
De ironia e falsidade.

Ainda hei de ver chegar a tarde ou a madrugada
Em que você vai me ver
Como uma pessoa
Que te quer muito amor
Que não é só um corpo
Capaz de dançar
Mas de fazer música.
Não é só capaz de comer
Mas de sentir fome.

E aí você vai entender
A razão do que eu digo
Pois é com muito orgulho
Que eu grito
Com todas as minhas vísceras
Que o Amor me pegou.

E é ele quem me abre o coração
Para você passar
Assim como Moisés abriu o Mar Vermelho
Para o povo hebreu caminhar.

É por isso que eu sou seu
Mesmo que você não queira.
É por isso que você me domina
Mesmo que não me deseje.

Agora cala minha boca.
Não quero mais falar.
Não quero mais te olhar.

Não quero mais traduzir em versos
Tudo que os meus olhos lhe revelam
E meu coração pensa.
Tudo que minha boca insulta
E meu pensamento pulsa.

Já que esse amor não morre.
Renasce em outro crepúsculo,
Percorrendo outros músculos
Em poucos minutos,
De um tempo minúsculo de se querer.

Cresce em reflexos
Num mundo circunflexo
De dias perplexos
De sentido sem nexo de se viver.

Se reproduz desesperado
Num momento exato
De corações apertados
E sentimentos frustrados de se esperar.

Morre em braços duros
De homens maduros
De pensamentos obscuros
e corpos profundos de se entregar.

Marcio Rufino
(Do livro Doces Versos da Paixão).


sábado, 12 de março de 2011

Beijo


Beijo

Cansei do beijo partido
Do beijo silenciado
Do beijo inacabado

Não quero o beijo
de selinho
de canto de lábio
Não quero o beijo
melado, nem babado
nem o de mau hálito

Quero o beijo
de línguas entrelaçadas
Com gosto forte
de carne e saliva.

Jorge Medeiros


sexta-feira, 11 de março de 2011

Poetas da Edição 8 da Gambiarra Profana



Esta é a edição ampliada em comemoração aos 11 anos da Gambiarra Profana que conta com a participação de 23 Poetas que são Sergio-SalleS-oigerS, Rosilene Ramos, Jorge Medeiros, Ana Flávia, Márcio Rufino, Fabiano Soares da Silva, Ivone Landim, Matheus José Mineiro, Tati Costa, Lenne Butterfly, Agnaldo Estrela, Silviah Carvalho, Dani Oliveira, Luís Anjos, Camila Senna, Dida Nascimento, Wilson Manoel, Sil, Dalva Mineira, Arnoldo Pimentel, Cláudia “A Paulistinha”, Amanda Nevark; Gabriela Boechat e participação mais que especial dos alunos da turma 403 da Escola Municipal Santos Dumont em Mesquita/RJ em uma das 27 Poesias. E Temos a arte da capa e ilustrações internas assinadas pela Gabriela Boechat.
         A Gambiarra Profana resgata nesta edição uma de suas principais características que é a produção textual coletiva e ainda aproveita para manter uma máxima primordial em suas publicações: A DIVERSIDADE; seja ela de estilo, conteúdo, forma.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Juntos




E juntos éramos uma geração,
uma revolução,uma interrogação.
E juntos éramos uma história,
uma trajetória, uma glória.
E juntos éramos uma aventura,
uma postura,
uma fratura exposta em pleno ocidente nacional.

E eu era apenas uma criança,
uma esperança de um futuro melhor.
Que ainda nem sabia que todo amanhã vira hoje,
para depois morrer como ontem
e renascer como anteontem.

Um curumim, que, coitado,
achava que só porque era começo,
nunca seria meio nem fim.

Um neném,
um alguém que nada sabia da vida,
porém, achava que alguma coisa da vida sabia além.

Quando eu olhava para o céu cor de anil,
você passou e nem me viu.
Pertubando toda minha calma.

Não sou Lázaro,
mas alguns vira-latas já lamberam minhas feridas d'alma.

Alma essa que me enxerga sem me ver,
que me saboreia sem sentir meu gosto,
que me masturba sem me tocar,
que me enlouquece lucidamente.

Eu, então, passei a te perseguir.
Há duas horas digo que vou embora
mas continuo aqui.

Às vezes acho
que você é uma pequena grandeza,
já que sei muito bem
que para o amor
não se põe mesa.
Mas de repente, eu caio do cavalo.
Chorar? Em que ombro?
Já que a sensação de estar caindo
é mil vezes pior do que a dor do tombo?

Me xingo, me humilho,
me rasgo, me ajoelho,
me olho no espelho
ou leio um livro de Paulo Coelho.

Mas eu fico na minha.
Você fica na sua.
Uma inspiração me cobra
A criação que na verdade é sua.

Passeamos embaixo da terra,
Em cima do cèu,
Dentro do mar.

Viajamos na frente do ônibus,
Submerso ao navio,
Rasante ao avião,
Tudo é um só coração.

Olho para trás não há ninguém,
Nenhuma pessoa, nenhum espírito, nenhum perispírito,
Nenhum sinistro coelho nos roendo a carne como legume.

E será que chegamos lá?
Será que vamos alcançar
algum rabo de cometa?
Alguma hélice de helicóptero?

Alguma asa de beija-flor?
Algum canto do sabiá?
Só Deus o saberá.

E juntos éramos uma luta, uma abertura, uma cultura.
E juntos éramos uma dinastia, uma energia, pura poesia.
E juntos éramos uma ilusão, uma consagração,
verdadeira fusão da realidade com a paixão
no Brasil da minha imaginação.

Marcio Rufino
(Do livro Doces Versos da Paixão)
Crédito de imagem: site Baixaki.

terça-feira, 8 de março de 2011

POEMAS DA JANELA




VAGO OLHAR DE MINHA MÃE

Beiral da janela
Pintura vazia na tela
Triste sem ela

JANELA

Janela pro mar
Interior de solidão
Aperto no coração

VENTO VAZIO

Olhar no vazio
Vento que te aquece
E você esquece

PRO SEU OLHAR

Crianças brincam
De frente pro seu olhar
Mas ali não está

CIGARRO

Olhar na janela
Cigarro encostado
Dia frustrado

SALA DECORADA

A fumaça que soltou
Esconde o olhar triste
Na sala decorada


segunda-feira, 7 de março de 2011

Átomo

Fui adiar a claridade
levar as sombras pra passear
Encontrei outra pessoa
na mesma rua a reclamar

andei cansada...
de tudo um pouco
de tudoum  nada ...
depressão?
acho que não.

talvez falta de firmeza...
não basta a fineza!
pode ser tambem falta de jeito,
afinal nem tudo que você diz
 é o que é.
(perdoe mas ...você não é bom em respeito!)

Ainda tem o lance do átomo
que colide com outra parte de si
e forma em nós um tesouro
ou será um besouro?

Você não sabe.
passa por cima ,
queima sem ler
queima sem saber
acredita no que vê.
Nem imagina o meu ser...
nem imagina que com você
não posso mais viver.

((Gabriela Boechat))

domingo, 6 de março de 2011

Casantiga


É tão bom viver numa casantiga
No meio do mato
Entre verdes pastos
Sentindo uma brisa amiga.

Casa coberta de telhado
Pra quando a chuva cair
A gente melhor escutar
Velho moço tocando violão
Pra quando avião passar
A gente nem olhar.

Grandes árvores
Dando gostosos frutos pra gente comer
E dos arranha-céus e das torres de babel
A gente se esquecer.

Feijão mineiro, arroz carreteiro, que amor.
Salada sem vida e sem cor de restaurante, que horror.
Uma galinha e seus pintinhos. Observo.
Para as mães não jogarem mais seus filhos no lixo
A Deus peço.

Morro alto pra gente se matar de subir.
Pras escadas rolantes dos shoppings num tô nem aí.
Leite fervido da vaca. Me acabo.
Leite em pó. Milk shake. Recusado.

Trotar de cavalos puxando carroças. Legal.
Barulho de motores de automóveis. Infernal.
Borboleta saindo de dentro da crisálida. Adoro.
Rato saindo de dentro do esgoto. Ignoro.

Na rede à tardinha me ajeito.
O colchão duro e fino da cama. Rejeito.
Pelas velhas lendas desta terra. Me interesso.
Estórias de Batmans e Rambos da vida. Despreso.

É a natureza. A criação. A verdade.
A origem. A revelação. A identidade.
De um povo. Uma vida. Uma nação.
Uma cultura. Uma dignidade. Uma canção.

Perdidos no meio do nada.
No meio da caatinga.
No meio da estrada.
Dentro de uma casantiga.

Marcio Rufino
(Todos os direitos reservados).

terça-feira, 1 de março de 2011

Louco Currículo


Quando o mundo foi feito
eu era anjo mandado para cá
para ajudar na arrumação das coisas.
Depois virei cliente mesopotâmico.
Depois virei escravo egípcio.
Depois virei efebo ateniense.
Depois virei cortesã romana.
Depois virei serva feudal.
Depois virei comerciante renascentista.
Depois virei escravo jeje nagô industrial.
Hoje sou tudo isso ainda querendo ser artista.
Sem casa, sem dinheiro.
Só a vontade, só o sonho,
só o devaneio, só a loucura.
Mas nesse circo neoliberal
que faz de mim palhaço,
eu navego em mares cansados.
Cansados de serem navegados.
Mas nesse picadeiro aquecidamente globalizado,
eu não quero me cubrir em bandeiras;
me esconder em ideologias;
me enganar em filosofias,
pois eu sei que só digo coisas que já foram ditas
e só escrevo coisas que já foram escritas.

Marcio Rufino
Todos os direitos reservados