segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Fabiano Soares da Silva e sua Poesia Sem Propriedade Privada




           Fabiano Soares da Silva, poeta, nascido na Baixada Fluminense, RJ. Passou a Escrever Poesia quando ainda cursava a quarta série do Ensino Fundamental, na Escola Municipal Manoel Gomes, em Belford Roxo, local onde passou a sua infância. Começou a publicar suas poesias quando conheceu o poeta Antônio Cabral Filho, em Niterói.
            Possui uma poesia sem paradeiro à beira da marginalidade literária e da sensualidade desvenda seu verdadeiro amor pela literatura.
  
Algumas publicações:
·        Evento da Vida, 1995;
·        Et Coetera, 1996;
·        Fonte da Rosa, 1996;
·        Poema Pequeno, 1997;
·        Agridoce, 1999;
·        O quê da Poesia, 2000;
·        Pedras & Poesia, 2001;
·        O Pão e a Fome, 2002 (coletânea poética);
·        Se Eu te Disser Um Poema, 2003;
·        Ferrugem no Papel na Alma e no Ar, 2004;
·        Da Sala de Aula ao Olho da Rua, 2006;
·        Pequeno Livro de Poemas, 2009;
·        A Borboleta-Azul, a Mariposa e o Gafanhoto, 2010.



Algumas Obras:



A Borboleta-Azul, a Mariposa e o Gafanhoto


Não quero o amor alheio
Mas o dado, o recebido,
O compartilhado,
O comum
Que caminha
Ao seu galope.
Ao que descansa
No teu colo
E alimenta a alma
Ao que enxuga a lágrima
A privação das palavras.
O telefone toca
E o som privado
E o som privado
Não quer ser reconhecido
Mas o amor não priva,
Liberta
Desperta
O desejo




Pequeno Livro de Poemas

Rabisco teu nome no céu
Como nuvem que desbota
A manhã desvirginada.
Não há mais segredos,
Como nunca houve
E nessa boca de café amargo
Silêncio, ansiedade.
Talvez um beijo
Apague a certeza
Teu olhar acanhado,
A desmentida de teus lábios,
Talvez pergunte: - O céu é azul?
Talvez a resposta que se queira seja dada
Enquanto isso,
Escrevo teu nome
No céu com todas as cores possíveis...




Da Sala de Aula ao Olho da Rua

O destino é a guerrilha
Contra o desprezo e a miséria.
A batalha não é mais na velha ilha
Mas atravessada nos continentes
Como uma artéria
Desenfreada pela vida aguerrida.

Mulheres e homens caminhando
A mesma ideia de mundo diverso
Assim se faz a palavra-de-ordem
Na beira da alma, no fundo do verso.
Na goela a voz e o grito
Mergulhado nos ares dos nossos sonhos
Do tamanho do universo






Ferrugens no Papel

No beijo
Na boca
Na alma
No céu
No corpo
Na calçada
Em todo lugar

Ferrugens
No
Papel
Na
Alma
E
No
Ar























Hoje beijei uma Judia
Por uma noite inteira
Amei uma Judia
Pela manhã, nos abraçamos
Nus, nos beijamos
E juntos, eu e a mulher Judia,
Nos matamos







Instrumental
 
O que tinha a ti dizer
Palavras secretas
Portas abertas
Amanhecer

A música instrumental
Teu riso colorido
Jardins floridos
O que é vital

Amanhecer
Portas abertas
Palavras secretas
Feitas pra você

O que é vital
Jardins floridos
Colorido riso teu
Música instrumental





Quando Sós

Matéria imóvel
Carne viva,
Morta em outra hora,
Putrefata
Penso na poeira que aduba
A estrada que esconde os rastros
Que a vida traz.
Nós a levamos nos ombros
Sem perguntarmos se devemos
Sorrir ou chorar.
E nós sorrimos e choramos
Quando nos sentimos sós,
Mas, por que não entendi Averróis?







Ausência

De repente, os espinhos
Não ferem mais e as rosas
Não exalam o perfume
Contido em seus sonhos
E de repente não existem.
Nem de repente.
E a mãe engole o sol
E dar-à-luz
E a luz condensa-se e apaga
No terceiro pôr-de-sol da vida
E a noite posta
Na soleira do esquecimento
Lembra e se perde
Entre um de repente
E outro, no jardim
Que o mundo não viu.







Frases Ocultas

Faltou o leite da criança
E a jovem-filha
Com sua jovem-mãe
Veem o jovem-pai que sai
Na velha-vida
Condução, passagem,
Calote
A esperança foi a primeira
Era uma passageira
Esperando seu dia chegar










Afabilidade

Na vida tudo é simples
Que quase não acreditamos nela.

Percebe-se quando desfilam
Nuas, as palavras
Leves, como a vida.

A vida não se vê
Como os olhos.

___ Piedade enquanto o outono
Esconde a estação de ser!












Et Coetera

O fim nunca começa
Porque o começo, nunca termina.
É o que vem na cabeça,
No dia novo que germina.

















Convívio

A mãe saca a arma,
Mira, com felicidade eufórica
E atira
Na boca da criança
O leite materno.












A Gambiarra Profana com Fabiano Soares nos Dois Anos do Pó de Poesia no Centro Cultural Donana

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Helena


HELENA
                      Arnoldo Pimentel

            Era uma manhã de domingo como as outras no mês de março, sol claro e quente. Helena preparou o café no coador de pano, como fazia sempre, o aroma viajava feito pássaros em revoada, sentamos pra tomar café, conversamos e notei que ela estava um pouco triste, mas fiquei quieto, éramos muito ligados um ao outro e sempre respeitei seu silêncio.
Por volta das nove da manhã estávamos no quintal, olhei uma cena, um retrato que nunca mais saiu de minha memória, era um banco junto à parede da casa em construção, estavam sentados ali, Helena, meu filho que na época estava com três anos, meu sobrinho com dois anos e um tio. Helena acariciava os dois netos, que ficavam sorrindo, nessa hora eu não tinha uma máquina para fotografar aquele último momento que a veria feliz.
Saí um pouco para ir à feira comprar frango fresco para o almoço e no caminho lembrei, não sei por que, da noite do natal passado quando estávamos todos na casa do meu irmão e um pouco depois da meia-noite, saí da casa e fui até o muro do terraço ficar olhando o céu, gosto muito de olhar o vazio do céu, foi quando Helena se aproximou e ficamos ali conversando e olhando os fogos, por um bom tempo ficamos ali e em certo momento ela falou –“Este é o último natal que passamos juntos”, confesso que naquele instante senti um aperto no coração, senti que não havia um horizonte, que não havia um ponto fixo para atravessar a ponte.
Cheguei da feira e depois fui até a esquina, o sol ainda estava brilhando, o céu azul, limpo com poucas nuvens brancas, mas meu olhar sentia uma infinita tristeza, algo por vir, talvez uma tristeza escondida entre as paredes da esquina. Parei no jornaleiro e fiquei conversando com amigos, acabei me distraindo enquanto os minutos passavam, foi quando veio alguém em minha direção, chamou-me no canto e pediu para eu ir para casa, nesse instante minhas pernas tremeram, senti calafrios e fui caminhando com passos largos, não prestava atenção nas árvores, nas folhas verdes que estavam murchando, entrei pelo quintal e vi o movimento na porta da cozinha, entrei e foi quando vi Helena sendo trazida pelos braços, segurei no braço esquerdo, ajudando a levá-la para o carro, ela olhou pra mim, olhos tristes, cansados, já ausentes, nesse momento  lembrei-me dos tempos de criança, em que eu ficava sorrindo para ela, lembrei-me da cachoeira que muitas vezes ela levava-me para olhar, de quando penteava seus cabelos longos, quando eu pedia colo, e quando adulto, das conversas que tínhamos e até dos filmes em preto e branco que ficávamos assistindo toda noite, mas ali estava seu olhar, ali vi o tempo passar, ela suspirou, olhou-me novamente nos olhos, fez um último esforço apertando de leve minha mão e falou baixinho, quase sussurrando, “Estou indo descansar”, senti um abandono, um abismo, minha mãe tão amiga, tão querida, na minha frente partindo, fiquei ali perdido, esquecido e acho que nunca me senti tão só.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Claudia Cherr: A Poesia em Movimento



A Gambiarra Profana apresenta o transformista Claudia Cherr e a sua Poesia em Movimento sob duas óticas.
Imagens captadas por Lenne Butterfly durante a participação da Gambiarra Profana no CineClube Digital no Sesc de Nova Iguaçu/RJ em 13/07/2010.